quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Saudade

Como é que um mês passa tão depresssa,
e ao mesmo tempo parece que já passou tanto tempo,
e ao mesmo tempo ainda não me convenci que aconteceu?

Como é que faço para seguir em frente,
se ainda não sei o que tenho que deixar para trás?

Porque é que sinto que não posso deixar para trás,
(porque vou sentir tanta falta!),
se ainda não me convenci que já não  está aqui?

Porque é que não choro, quando escrevo isto?
Porque é que este nó não sai?

Mas, ao mesmo tempo, esta paz:
O consolo de saber que está bem,
que já não tem dores,
que não tem dificuldade em respirar...

Saudade, minha mãe,
Mas o consolo de saber que está com a Mãe,
limpa-me as lágrimas que teimam em não cair.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Uma questão de 😊

Sorrir com os olhos

Os olhos são o espelho da alma. Mesmo! Eles reflectem o que se sente, o que vai cá dentro, no íntimo de cada um
Podemos ter um sorriso nos lábios, um rosto bonito, uma maneira educada de atender...
Ah!, mas se nos olhos não estiver isso tudo também, é frio, não acolhe, não envolve.
Pode uma pessoa enganar-se ao início, deixar as coisas irem correndo. Mas fica tudo oco, sem conteúdo... Sem sentimento.
No olhar vê-se a alegria e a tristeza, a confusão, a aceitação, o medo...e a confiança.
Mas acima de tudo, o que melhor se vê no olhar, é o Amor.
Quando a mãe contempla o filho que tem no colo, quando abraçamos a criança que corre para nós, quando o namorado acaricia o cabelo dela, quando ela encosta a cabeça no ombro dele... quando não há falsidade.
A falsidade embacia o olhar. Como as lágrimas, que essa falsidade provoca...

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

1 ano passado...



Demorei um ano a assumir: estive quase 1 ano a caminhar para a morte.
Sem me dar conta, fui-me destruindo, porque não dei importância à minha saúde.
Sentia o corpo a enfraquecer, e simplesmente culpava-me porque "é falta de exercício".
As pernas não respondiam, os joelhos falhavam, "é falta de exercício".
Andei tão distraída de mim, que cheguei a permitir ser objecto de gozo e brincadeira, falta de respeito mesmo, sem ter força para reagir; só para "viver como os outros". Sem problemas, sem forças para me manter "Eu".

A fraqueza do corpo atingiu a mente, com certeza.
Até ao sentir-me cair, sem forças, e ter que entrar em casa de joelhos, retirei importância:"não misturas mais paracetamol com sangrias!"
Quando fiquei deitada, no chão, sem forças para gritar, não me assustei muito. Quando o meu pai me levantou, não tive forças para o ajudar; não me assustei muito.
Quando me sentaram na cadeira para me transportarem para a ambulância, não me assustei. Quando segui na maca da ambulância para as urgências, quando me encaminharam para tantos exames, quando me disseram que tinha que ficar internada, e mais uma série de coisas, e exames, e tratamentos, não me assustei.
Não me importei, nada me importava muito, nem o não conseguir segurar o copo dos comprimidos, de tanto que tremia, me assustou.
Agora posso dizer que a ideia de lá ficar, deitada, longe de todos, me seduziu muito.
Fechar os olhos e não me mexer. Era o que queria.
Estive a morrer, e teria morrido sem dar conta...

O que fiz, o que devia ter feito;
o que disse, o que devia ter dito;
o que senti, o que devia ter sentido...

Talvez não fosse um total desperdício, mas foi de certeza muito mal vivido.

Ou então talvez não;
Porque encontrei pessoas espectaculares naquele hospital, profissionais, auxiliares, voluntários.  Todos vieram ter comigo, até Jesus, na comunhão.
Porque vivi, ou sobrevivi.
Porque vi o que é para mim, e o que não se encaixa na minha vida.
Porque aprendi, mais uma vez, que não tenho que tentar ser o que não sou. e o que eu acredito vale mesmo a pena!